quinta-feira, 15 de julho de 2021

Nossa Senhora da Glória durante a “seca de 70”

Por Aírles Almeida dos Santos

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            Os anos de 1970 marcaram Sergipe, em especial o sertão, devido à forte estiagem que tomou contornos de calamidade pública. A “seca de 70” caracterizou-se pelo inverno fraco, que já havia marcado um pouco 1969, seguido por um verão rigoroso durante todo o ano até o início de 1971. Tudo isso trouxe desolação para a população sertaneja.

            Os camponeses de Nossa Senhora da Glória, com todos os seus recursos já esgotados, passaram a recorrer às autoridades, que a partir de junho de 1970, criaram as frentes de trabalho (estas organizadas pelo Governo do Estado juntamente com a SUDENE). Apesar disso, as ações governamentais eram ineficientes: não dava para criar trabalho para todos que necessitavam - apenas uma pessoa por família era cadastrada e podia receber pelos serviços; era frequente a presença de menores de idade alistados; a remuneração girava em torno de 14 cruzeiros (segundo entrevistados) e alguns mantimentos eram de qualidade questionável.

Além da criação das frentes de trabalho e da distribuição de alimentos, o abastecimento de água por meio de caminhões pipas também fazia parte do plano de emergência. O DNOCS e a SUDENE enviavam caminhões pipas para abastecer a cidade e os povoados, água essa que só dava para o consumo humano básico, ficando a cargo dos proprietários de gado comprar a água para seus animais.

            Os jornais sergipanos como A Tribuna de Aracaju, Diário de Aracaju, Gazeta de Sergipe e o católico A Defesa noticiavam a triste situação de Nossa Senhora da Glória. As manchetes eram sobre a seca, a penúria e migração forçada da população rural para outras regiões do país, feita por meio de caminhão pau-de-arara. Quem não conseguia trabalho nas frentes criadas pelo governo ou não conseguia ajuda da família, era obrigado a se desfazer de seus poucos bens e tentar ganhar a vida em outros lugares.

            A Igreja Católica, através da atuação da Diocese de Propriá, do Padre León Gregório e do papel de divulgação do Jornal A Defesa, esteve presente na assistência às populações afetadas pela seca a partir da realização de campanhas beneficentes para arrecadação de mantimentos em favor dos sertanejos. Era comum também visitas do bispo D. José Brandão e do Pe. Gregório às frentes de trabalho.

 

 


Jornal A Defesa. Propriá, 04 de março de 1971



Jornal A Defesa. Propriá, 13 de junho de 1971              

       

Juntamente com as entidades públicas e religiosas, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nossa Senhora da Glória também ajudou ao reportar a situação vivenciada pelos camponeses, fazendeiros e criadores de gado às autoridades locais.

 

·         Dados históricos:

- População Gloriense (1970): pouco mais de 13.700 habitantes (maior parte ligada à agropecuária).

- Piores secas do período: seca de 1970, 1979, sendo a de 70 mais sentida pela população. Outro período marcado pela seca foi o ano de 1983.

 

·         Jornais que noticiaram o sertão durante a “seca de 70”

- Diário Oficial do Estado (Aracaju)

- Jornal A Defesa (Propriá)

- Jornal A Tribuna de Aracaju (Aracaju)

- Jornal Diário de Aracaju (Aracaju)

- Jornal Gazeta de Sergipe (Aracaju)

             

Jornal A Defesa. Propriá, 13 de setembro de 1970.

Fontes

Jornal A Defesa. Propriá, 13 de setembro de 1970. Disponível em: https://jornaisdesergipe.ufs.br/handle/123456789/14707.

Jornal A Defesa. Propriá, 04 de março de 1971. Disponível em: https://jornaisdesergipe.ufs.br/handle/123456789/14707.

Jornal A Defesa. Propriá, 13 de junho de 1971, Disponível em: https://jornaisdesergipe.ufs.br/handle/123456789/14707.

 

Referência

RODRIGUES, Fábio. Memórias da seca de 1970 em Nossa Senhora da Glória. In: A seca de 1970 em Sergipe: uma história a ser contada. Monografia (Graduação em História). São Cristóvão, Universidade Federal de Sergipe, 2011, pp. 53-66.