Por Aírles Almeida dos Santos
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A história da origem do município de Nossa
Senhora da Glória - antiga Boca da Mata - insere-se no contexto do terceiro
ciclo da ocupação do sertão sergipano (fins do século XVIII e início do XIX),
muito semelhante em relação a história de outros municípios dessa região.
Explica-se o início do povoamento da cidade a partir da expansão da atividade
pecuária, resultante na ocupação de fazendas e sítios a partir do século XVIII
compondo os primeiros núcleos de povoamento. O primeiro nome dado a esse incipiente aglomerado humano foi Boca da Mata por servir de ponto de parada aos
viajantes, boiadeiros, tropeiros, tangedores de gado que preferiam pernoitar ao
adentrar à noite na mata alta e densa. Foi graças aos ranchos desses viajantes
que se formou o primeiro núcleo habitacional no local.
Entretanto,
ao analisar esse processo de ocupação, aparecem várias contestações,
principalmente no que se refere ao período. A maior dificuldade para o estudo
do tema é a falta de documentação ou pesquisas relacionadas ao assunto.
Acreditou-se que a povoação que possibilitou a criação da atual cidade de Nossa
Senhora da Glória teria surgido por volta de 1600 a 1625, século XVII, como
afirma o historiador sergipano Carvalho de Lima Júnior em História dos Limites
entre Sergipe e Bahia. Esse autor defende a tese de que as terras pertencentes
ao referido município pertencia a Tomé da Rocha Malheiros, que obtivera uma
sesmaria de 10 léguas da Serra da Tabanga, estendendo-se para o sertão. Essa
tese passou a ser contestada. Segundo o professor José Carlos de Souza, em tal
afirmação ocorreu um equívoco e ao analisarmos a história de Gararu (Curral de
Pedras), a qual Boca da Mata pertencia, percebemos alguns problemas ao
afirmarmos que a região foi ocupada no século XVII. O povoamento de Curral de
Pedras teria sido resultado da fuga de colonos portugueses que se refugiaram na
Serra da Tabanga, apavorados pela ação dos holandeses em território sergipano a
partir de 1637. Portanto, por ser uma região de difícil acesso, a Boca da Mata
dificilmente seria colonizada no século XVII antes de Curral de Pedras, como
não foi, uma vez que estava localizada nas margens do rio São Francisco e isso
é um fator que facilitou a ação de colonos. O sertão sergipano foi ocupado
basicamente pelo elemento europeu, quase não havendo a presença de indígenas,
mas sim de alguns caboclos, fruto da miscigenação. Estes caboclos se tornaram
vaqueiros, sendo os primeiros a provocarem o processo de expansão das terras
para o sertão, compondo figuras principais das fazendas de criar.
Dessa
forma, a primeira povoação que deu início ao povoado de Boca na Mata surgiu a
partir do fim do século XVIII e início do XIX, sendo constituído primeiramente
Curral de Pedras e a partir daí os ranchos de tropeiros para pernoitar, dando
origem a Boca da Mata. Foi a formação desses ranchos que provocou a derrubada
da mata para o desenvolvimento de culturas agrícolas, como mandioca, milho e é
claro para servir de pastagens para o gado. Conforme Jorge Henrique Vieira
Santos, as primeiras habitações de Boca da Mata foram a fazenda de mesmo nome,
pertencente a Antônio de Souza Corrêa, na atual Avenida 7 de Setembro; a casa
de Senhor Xixiu (Francisco Teles Trindade), no lado direito de onde veio a ser
construída a capela e a casa de Antônio Pereira de Sousa, a primeira da Rua
Velha, hoje Praça da Bandeira.
Enquanto parte do município de Gararu, Nossa Senhora da Glória tinha o nome primitivo de Boca da Mata. No governo de Manoel Correia Dantas (em 1928 - Lei 1014, de 26 de setembro), devido ao seu crescimento acima da média da região, já com o nome de Nossa Senhora da Glória, tornou-se autônoma como município, construindo seu território com parte de Gararu e parte de Porto da Folha.
Postagem atualizada em 2020.
Blog "Nas Garras da História: Conhecendo Nossa Senhora da Glória/SE"
Referências
SANTOS, Airles Almeida. Do gibão à Batina: a ocupação de Nossa Senhora da Glória e o papel da Igreja para o desenvolvimento de “Boca da Mata”. Portal SoudeSergipe.com. e Jornal SoudeSergipe, Nossa Senhora da Glória, v.2, p. 2, setembro de 2014.